História da FEB

Vivências de Guerra e de Paz

Tive a honra de receber das mãos do Major Ruy de Oliveira Fonseca, veterano da FEB, dois exemplares autografados de seus livros, lançados recentemente: Meu Pelotão e Eu e Vivências de Guerra e de Paz.

Recentes livros escritos pelo Major Ruy de Oliveira Fonseca

Meu Pelotão e Eu traz um apanhado de fotografias pessoais e do seu pelotão de Petrechos Pesados, da 4ª Cia do II Batalhão do 11º RI, que complementam e ilustram o seu outro livro, Vivências de Guerra e de Paz. Ambos dão continuidade à obra Uma Face da Glória, lançada pelo oficial em 2002.

Sempre atencioso e com uma memória invejável, o Major Ruy concedeu uma entrevista para o Projeto Memória Viva em dezembro passado, junto a diversos veteranos da ANVFEB de Juiz de Fora/MG.

Maj Ruy em entrevista para o Projeto Memória Viva

Dentre as muitas qualidades presentes em suas obras, destacam-se os pormenores da rotina e do relacionamento dos homens do seu pelotão. São informações de valor inestimável para historiadores, pesquisadores e os amantes da história da FEB em geral. Foram elas  transcritas, segundo o próprio autor,  de  “três cadernos amarelecidos e manchados pelo suor e pela umidade das chuvas e da neve da Itália”.

O então tenente Ruy em 1944 (foto colorida digitalmente)

Na leitura das suas memórias, percebe-se não só a simplicidade, o patriotismo, a honestidade e a disposição em cumprir seu dever da melhor forma possível, mas, principalmente, a preocupação do tenente Ruy em ser um bom líder de pelotão, trazendo de volta seus homens ao Brasil. Conforme ele escreveu no livro Uma Face da Glória (Pg 61):

” Sinceramente, sinto medo, um medo danado, ainda maior de ter medo na hora “H”. Tenho, porém, consciência de minhas responsabilidades e acredito firmemente em minha capacidade de dominar esse apavoramento inicial. Tenho convivido com os homens do meu pelotão durante todo o tempo e os conheço bem e eles a mim; temos um bom relacionamento e formamos uma fraternidade, a maioria deles é de Santa Catarina e oriundos do Depósito da FEB, desde Caçapava. Há também baianos e paulistas. Uns extrovertidos, outros caladões, mas de qualquer maneira procuro atingir a todos; eles são minha responsabilidade e eu, que os trouxe, tenho a obrigação de fazer de tudo para levá-los de volta para o Brasil! “

O tenente Ruy guarneceu uma das mais avançadas e perigosas posições brasileiras: Case Guanella. Era um casario em forma de “U”, com abertura para o lado brasileiro, localizado no cocuruto de uma elevação da ordem de 750 metros, frontal ao Monte Castello, exposta aos  frequentes tiros de morteiro, metralhadoras, fuzis e tiros diretos de canhões de 88mm. O pelotão recebeu ordens de resistir naquela posição a qualquer custo, ordem cumprida com o sacrifício de muitos brasileiros.

Nas barbas do tedesco: A posição ocupada pelo pelotão do Tenente Ruy, em Case Guanella (abaixo à direita) distava poucas dezenas de metros das metralhadoras e morteiros alemães (em vermelho)

No vídeo a seguir, gravado próximo a La Cá (canto direito da imagem) pode-se visualizar uma das franjas do Monte Castello, C. Vitelline (posição avançada alemã), ao centro, e o topo do casario de Case Guanella, à esquerda.

Convivendo com o perigo 24 horas por dia, durante 17 dias seguidos naquela posição terrível, seu cuidado com os subordinados foi atestado por outro pracinha, o tenente Cássio Abranches Viotti, no livro Crônicas da Guerra (Pg. 222)

“Em Guanella conheci os tenentes Rui, Meireles e Bezerra, os dois primeiros cariocas, e o último, cearense.  O Rui era oficial da reserva como eu. Era alegre e brincalhão. Não admitia ser mandado ou mandar os seus soldados para apanhar aqueles cadáveres abandonados no campo de batalha. Dizia textualmente: – “Morreu? Caveira! Eu é que não vou morrer ou matar os meus soldados para buscar um morto!”.

Hoje, com 96 anos, o prefácio escrito pelo Major Ruy em seu livro Uma Face da Glória serve como uma verdadeira síntese do pensamento desse ilustre veterano da FEB.

“Relendo o que escrevi há mais de 50 anos, (..) surpreendo-me com um sorriso maroto, meio de saudade, meio de prazer, por me reconhecer sem neuroses, sem revoltas e até mesmo orgulhoso por ter resistido e superado as possíveis sequelas que os dias de combate no front deixaram em tantos companheiros.

Com as minhas atuais circunstâncias, sinto que sou o mesmo indivíduo e não me considero um predestinado, embora admita que somente a proteção de Deus, em quem sempre confiei, me tenha preservado a vida e a saúde.”

Palavras do Maj Ruy sobre o livro:

Ultimamente tem sido publicados livros sobre a vivência de pessoas com outrem, com objetos e até com plantas… “XYZ e Eu”. Então pensei: eu que passei mais de ano e meio convivendo com cerca de quarenta criaturas, por dias e noites, com sol, chuva e neve, com alegrias e tristezas, medos e angústia, sofrimento e dor, merecia igualmente uma referência que traduzisse essa situação toda especial, por se tratar de um compromisso deles e meu, que cada um de nós assumiu ao “jurar a Bandeira”, como cidadão a serviço da Pátria. Assim, “Meu Pelotão e Eu” sem preocupação de ser mais um livro sobre a FEB, mostra contudo, uma visão particular e intimista da guerra contada por uma pessoa comum, permitindo porém observar aspectos da natureza humana, revelados pelas fotos e gravuras expostas em suas páginas.

Valor: R$ 15,00, já com despesas postais

Pedidos do livro pelo e-mail da ANVFEB/JF: anvfebjfmg@lapaazul

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7 respostas »

  1. Eu gostaria de adquirir os dois livros, especialmente porque estou escrevendo uma equena biografia de um colega do Ten. Ruy, o Ten. Newton de Oliveira Ribeiro sub-comandante da4. Companhia e viajaram no mesmo camarote, permanecendo junto na Italia. POderiam enviar instruções? Obrigado!

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  2. Olá, primeiramente, parabenizo aos senhores pelo belo trabalho desenvolvido aqui. Tenho algumas dúvidas sobre a batalha de Monte Castello e gostaria de saber como poderia entrar em contato com os administradores deste site.

    Agradeço desde já.

    Obs: Desculpe-me por utilizar esse espaço para isto.

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