No início dos anos 1990, um grupo de eminentes cineastas capitaneados por Martin Scorcese, que reunia astros como Woody Allen, Robert Altman, Francis Ford Coppola, Clint Eastwood, Stanley Kubrick, George Lucas, Sydney Pollack, Robert Redford e Steven Spielberg, fundou a Film Foundation – Filmmakers For Film Preservation: uma entidade inteiramente dedicada à preservação do acervo audiovisual dos Estados Unidos.
A instituição estimou que a metade dos filmes norte-americanos feitos antes de 1950 haviam se desintegrado — perdidos para sempre —, e que existiam apenas dez por cento dos produzidos antes de 1929. Para os filmes sobreviventes, a situação era pouco animadora, tal o estado deplorável em que se encontravam.[1]
Trazendo esta questão para o Brasil, no que diz respeito à memória iconográfica (filmes e fotografias) da FEB, cabe uma pergunta: — o que tem sido feito para preservá-la?
Aos olhos do leigo, a película de cinema bem conservada dura para a eternidade. Nada mais enganoso. A emulsão cinematográfica degrada-se com o passar dos anos, não importa o método de acondicionamento. O cuidado na armazenagem é capaz apenas de retardar o seu fim. A deterioração atinge com mais intensidade os filmes produzidos antes dos anos 1950, compostos por uma base de nitrato de celulose: um material altamente inflamável. Neste tipo de película, acontece o que os cineastas chamam de “efeito vinagre”. A proliferação de fungos desencadeia uma série de reações químicas que rompem as cadeias de acetatos, liberando ácido acético. O filme vai para o vinagre, literalmente. A única solução para evitar a perda do material histórico é submetê-lo a uma digitalização profissional.

Ao que tudo indica, a película original que mostra a ação de combate da FEB na Itália, filmada e editada pelo DIP em 1945, encontra-se sob a guarda do Centro de Comunicação Social do Exército, em Brasília. A pergunta que os historiadores e pesquisadores normalmente fazem é: o que tem sido feito para preservar e tornar acessível este material único? Por mais incrível que seja, hoje é muito mais fácil obter cópias de filmes históricos sobre a FEB no Exterior do que em nosso país.
Outro ponto delicado do acervo iconográfico da FEB são as fotografias. Com o passar dos anos, o acervo fotográfico dos brasileiros na guerra vem passando por uma transformação curiosa. Ao invés de se tornar mais rico e acessível, ele está cada vez mais pobre e distante dos pesquisadores, mesmo com a chegada das ferramentas da tecnologia moderna e da internet.
Quem teve a honra de visitar a Major Elza em seu escritório, no início deste século, pôde vê-la exibindo orgulhosa sua extensa coleção de imagens. Um imenso álbum estava sendo escaneado, em alta resolução, por um cuidadoso auxiliar cedido pelo Exército Brasileiro. Todavia, hoje não são poucos os pesquisadores que visitam os arquivos militares e não mais encontram este material. Qual terá sido o destino dessa coleção de fotos e arquivos digitais? Outras coletâneas raras, como a do General Uzêda, recebem a mesma pergunta.
Há o temor, mais do que justificado, de que o precioso material tenha caído nas mãos de colecionadores inescrupulosos ou no limbo das coleções particulares — conforme vem acontecendo com o acervo material de inúmeras associações de veteranos da FEB, que vêm fechando suas portas em todo o país.

Felizmente, há pessoas que guardam com carinho o acervo fotográfico dos pracinhas e estão dispostas a compartilhá-lo, como a senhora Carmem Couto, filha do veterano Elias José do Couto, que integrou o 11º Regimento de Infantaria, em São João del Rei. Na esperança de que as imagens possam enriquecer a memória da FEB, chegando aos filhos e netos de outros veteranos retratados nas imagens, ela disponibilizou o seu álbum de família, exposto a seguir.
Diferente da bibliografia, reproduzida em milhares de exemplares, o acervo iconográfico da FEB é único — e sua perda irreparável. Nas sete décadas passadas desde o término da II GM, o Estado brasileiro não foi capaz de criar uma entidade — civil ou militar — capaz de receber o acervo material doado pelos nossos pracinhas e seus descendentes. Uma grande quantidade de imagens e materiais diversos certamente teve como destino a lata do lixo: da História e da calçada.
























[1] http://www.abcine.org.br/artigos/?id=76&/cinema-para-sempre
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Bom dia,sr,Durval
Preciso do seu e-mail para mandar umas fotos,desculpa a demora mas estive adoentada .Um abraço
Celia Valporto
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Bom dia,
Está no seu e-mail.
Abs,
Durval
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Oi Durval,
Seu site tem abrangência nas associações? Tipo é postado automaticamente lá ou somente aos cadastrados?
Ficou ótimo a disposição das fotos, mas não seria bom um subtítulo de chamariz para as pessoas identificarem seus parentes?
Meu nome é CarmeN (com N no final)
Obrigada, Carmen
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Chefiei a Subsecao de Produção e Divulgação do Comando Militar do Leste entre 2007 e 2012. O acervo mais interessante lá existente, ainda em formato Beta ou VHS, foi compilado inicialmente para DVD e lá se encontra catalogado e acessivel. O intuito foi permitir a continuidade do acesso ao material, já que aparelhos em Beta e VHS estão em extinção. Em segundo, permitir o arquivamento adequado, inicialmente a cargo do Arquivo Histórico do Exército, e após, no Arquivo Nacional. Este último, aliás, detém a maioria do acervo, em comodato. Igual preocupação houve com as fotos. Na era digital, alias, não há a cultura de preservar os arquivos de imagens para o futuro. De tempos em tempos as fotos foram selecionadas e arquivadas.
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Eu acho que nossa memoria tem e deve ser preservada,por orgaos estatais ou privados e nosso povo nossa gente isso e historia nao tem como apagar.
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