A História do Batalhão

O III Batalhão do 11º Regimento de Infantaria foi organizado em São João del Rei, MG, a partir da ordem para a formação da FEB, em novembro de 1943. Sob o comando do Major Cândido Alves da Silva, o batalhão seguiu para o Rio de Janeiro em 1944, ficando aquartelado no atual Campo de Instrução de Gericinó.

Após cerca de 6 meses de treinamento, embarcou para a Itália em 18 de setembro de 1944, chegando a Nápoles no dia 6 de outubro. Seguiu logo após para a cidade de Livorno, acampando perto do vilarejo de San Rossore, próximo à Pisa, a fim de receber os armamentos e ultimar seus treinamentos para entrada em combate.

BATISMO DE FOGO

Dos nove batalhões da FEB, O “Lapa Azul” foi escolhido juntamente como I Batalhão do 11º RI para liderar o ataque ao Monte Castello, a 29 de novembro de 1944. Anteriormente, brasileiros e norte-americanos já haviam tentado a conquista do monte em duas oportunidades.

Ainda com o seu ciclo de treinamento incompleto, tendo recebido apenas parte do material de dotação, o batalhão foi colocado na linha de frente às pressas, interrompendo uma extenuante marcha noturna de treinamento.

Face às circunstâncias, o batalhão até foi bem em seu batismo de fogo, atingindo a maior parte dos objetivos estabelecidos na operação. Mas foi obrigado a retrair, devido às pesadas baixas que a outra peça de manobra (o I Batalhão do 1° RI) vinha sofrendo. Foi novamente empregado no 4º ataque aliado ao Monte Castello, em 12 de dezembro. No ataque vitorioso, em 21 de fevereiro de 1945, atuou em segundo escalão.

Na batalha de Montese – a mais sangrenta de toda campanha da FEB – foi novamente o batalhão escolhido para desenvolver o esforço principal da operação – um claro reconhecimento à sua eficiência em combate.

A vitória brasileira mereceu o elogio do comando aliado. Segundo declarou o General Crittenberger, Comandante do IV Corpo de Exército: Depois de Montese os brasileiros estão em condições de ensinar aos demais como se conquista uma cidade. Não foi pouco. Com o rompimento da última linha de defesa nazista, a Linha Gótica, o dispositivo do Eixo desmoronou, provocando a retirada de todo o exército alemão para o norte da Itália.

A qualidade dos seus homens e a liderança dos oficiais e graduados foram os verdadeiros alicerces para o cumprimento das mais árduas missões. Durante a gravação de entrevistas para o documentário, foi comum os entrevistados abrirem um largo sorriso quando perguntados sobre seus comandantes, relembrando inclusive os inevitáveis apelidos espirituosos, sinal claro da empatia e da camaradagem reinante na tropa.

Acostumados a invernos amenos, os pracinhas logo se viram obrigados a combater sob a neve, com temperaturas sub-árticas de até -20°C. Oriundos de um país pacífico, cuja última experiência bélica havia ocorrido há quase 80 anos, na Guerra do Paraguai, encontraram tropas inimigas com quase seis anos de experiência de guerra, algumas veteranas da frente russa.

ESPÍRITO DE CORPO

O notável desempenho do batalhão possuía fundamentos sólidos. A qualidade dos seus homens, aliada à liderança dos oficiais e graduados, foram os verdadeiros alicerces para o cumprimento das mais árduas missões. Durante a gravação do documentário, foi comum os entrevistados abrirem um largo sorriso quando perguntados sobre os seus ex-comandantes. Muitos relembraram, inclusive, os inevitáveis apelidos espirituosos. Sinal claro da empatia e da camaradagem reinante na tropa.

Logo ficou evidente que o padrão de disciplina em vigor no Exército Brasileiro da época: moldado segundo os rígidos e aristocráticos padrões franceses, não mais se adequava à guerra moderna — e muito menos ao espírito brasileiro. Os primeiros combates ensinaram que acima do dever moral e do sentimento patriótico, são os laços de camaradagem os responsáveis pela conduta do combatente.

No terreno montanhoso italiano, os blindados tiveram importância reduzida. A topografia acidentada inviabilizou as grandes manobras, reduzindo a esmagadora superioridade aliada. Cresceu então a importância tática das pequenas frações de tropa: as companhias, pelotões e grupos de combate, acentuando o papel do simples soldado, do seu relacionamento e confiança nos superiores. Sozinho à noite numa trincheira gelada, frente ao inimigo, somente o espírito de corpo mostrou-se capaz de manter o sentinela firme em seu posto.

Terminada a guerra, o “Lapa Azul” retornou ao Rio de Janeiro no dia 19 de setembro de 1945. A população lotou as avenidas Rio Branco e Getúlio Vargas para assistir ao desfile, onde até as marquises e árvores serviram como assentos. Calculou-se que de cada três cariocas, um tenha participado do evento: até hoje a maior manifestação popular da história da cidade.

DESMOBILIZAÇÃO

Um levantamento estatístico feito pelo exército norte-americano, mostrou que o maior índice de baixas em suas divisões não esteve no Teatro de Operações do Pacífico (média de 736 mortos por divisão) nem mesmo no oeste europeu (média de 1.871 mortos), mas na Itália (média de 5.453 mortos). Tais dados parecem demonstrar que os combates mais encarniçados ocorreram justamente onde se encontrava a FEB.

Embora essa estatística nos forneça dados relevantes, somente ela não é capaz de dimensionar o sacrifício vivenciado pelos militares, durante e após a guerra. As inúmeras privações: fome, frio, medo, os horrores testemunhados, o constante estado de “stress”, provocam mudanças radicais na essência do ser humano. Dificilmente o soldado que esteve no “front” retornou incólume. Centenas deles voltaram para casa com diversas mutilações: pés, braços e pernas amputados, comprometendo suas vidas futuras de forma irremediável.

Após a luta junto as democracias ocidentais e contra os regimes nazi-fascistas, a FEB tornou-se uma ameaça à ditadura Vargas. Por isso, foi ordenada a sua imediata desmobilização após a guerra. Os militares convocados foram sumariamente licenciados ainda na Itália, recebendo os certificados de reservista impressos em uma gráfica de Pisa. Retornaram ao Brasil como civis. Vários militares de carreira, após uma breve licença, foram transferidos para a fronteira e localidades distantes.

Essa desmobilização açodada devolveu à sociedade jovens com variadas seqüelas psicológicas de difícil diagnóstico e tratamento, que os fizeram passar uma vida inteira atormentados por neuroses e surtos psicóticos. Boa parte deles foi consumida pelo alcoolismo.

8 respostas »

  1. Eu pesquisando os documentos e fotos um soldado da FEB, que era desse regimento, tratava-se de Claudovino Madaleno dos Santos, natural de Sete Lagoas. Na base de dados da FEB existem poucas informações sobre ele. Por favor, se alguém souber de alguma informação me
    avise pelo whatsapp 31 990681681. Obrigado e saudações fraternas!

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  2. Meu pai foi pracinha. Acredito que deveriam propagar mais a historia, inclusive fazendo filmes e documentários para que todos conheçam a história desses bravos combatentes. Gostaria tanto de ter uma foto do meu pai na Guerra. Ele se chamava Osvaldo Mendes e pertenceu ao 11 de São João Del Rei.

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  3. vcs nao sao apenas uma parte da historia vcs sao a propia historia viva parabens a todos q lutarao com bravura e coragem mi orgulho muito em saber q ha homens como vcs vivendo nessa cidade parabens a todos abracos.

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  4. Estamos acostumados a exaltar os feitos de heróis extrangeiros, de mentira, fantasiosos. Está mais do que na hora de valorizarmos os nossos verdadeiros heróis de carne e osso. Honra e orgulho aos pracinhas, heróis brasileiros de verdade!

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  5. Eu tambem me associo aos mesmos sentimentos destes heróis da nossa Pátria, pois sou militar da ativa do Exército Brasileiro e já participei de uma missão real no Haiti pela ONU, não se comparando com a FEB mas sei o quanto doi na gente ouvir ou ver pessoas que não conhecem do assunto conflitos, falarem bobagens. Parabéns a todos os Veteranos do Brasil! Pátria, Brasil! 3ºSgt Silva Júnior do 16º BIMTZ Natal
    – RN.

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    • Nem se compara ao que a FEB viveu na Itália, Eles sim são verdadeiros combatentes e muitos deles bem soldados eram

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  6. Toda vez que o Brasil é vitorioso em algum esporte é comum exaltarmos nossos atletas e os elevarmos a categoria de herois nacionais. Passados cinco, dez, trinta anos da conquista vários programas relambram seus feitos, sua trajetória e voltam a refrescar nossas memórias com emocionantes reportagens.
    Mas aí eu pergunto: E os nossos valorosos pracinhas? Nossos verdadeiros herois. Aqueles que abriram mão de suas famílias para embarcar numa viagem que para alguns foi sem volta e lutar pelas liberdades mundiais. Estão esquecidos e a aos poucos vão sendo devorados pelo tempo. As gerações recentes já não se lembram mais de seus feitos, de suas privações nos campos de batalha de seu heroismo que em muitos casos foi voluntário. Deram o sangue pela pátria, pelas gerações que viriam e não são lemabrados por esta.
    Exalto em minhas humildes palavras o orgulho que tenho destes valoros homens que devem ser novamente inceridos no nosso cotidiano pois estes sim cumpriram seu dever e honraram a pátria onde nasceram. Minhas respeitosas continências aos nossos herois.

    “Por mais terras que percorra
    não permita Deus que eu morra
    sem que volte para lá.
    Sem que leve por divisa
    este “V” que simboliza
    a vitória que virá…”

    Bruno

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  7. A Internet nos permite conhecer a História com a riquesa da veracidade e suas nuances. Entretanto, o brasileiro parece não se interessar por ela, nem pela Pátria, nem por sí próprio. Parabéns pelo site.

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