No dia 9 de setembro de 1944, cumprindo ordens emanadas do 5º Exército, o general Mascarenhas de Moraes foi convidado a comparecer no QG do IV Corpo de Exército, para se entender com o seu futuro comandante imediato, o general Willis D. Crittenberger (foto).

O posto de comando do IV Corpo estava localizado em um bosque, dispondo de uma sala de reuniões de emergência. O general Mascarenhas para lá se dirigiu, acompanhado por seu chefe de Estado-Maior, coronel Lima Brayner, pelo general Zenóbio da Costa, e pelos tenentes-coronéis Amaury Kruel e Humberto Castello Branco. O depoimento a seguir consta nas memórias do coronel Brayner, em seu polêmico A Verdade Sobre a FEB:
“Crittenberger, antigo instrutor da Escola de West Point, bem mais velho que Clark (general Mark Clark), era homem de outro temperamento. Nele se refletia, indisfarçavelmente, a ancestralidade germânica. Cordial, mas a seu modo, com tendência para manter a ironia. Muito distante daquela diplomacia impecável de Clark, que em nenhum momento deixava transparecer o chefe enérgico, bravo e impulsivo, e não costumava deixar as coisa pela metade.
Era a primeira vez que Mascarenhas e Critenberger se encontravam. O chefe americano, homem de alta estatura, tinha um ajudante-de-ordens, capitão, mais alto ainda, um verdadeiro gigante. Acompanhava também o general brasileiro o capitão Vernon Walters, habilíssimo interprete, sagaz e inteligente, que o general Clark designaria como oficial de ligação (foto).

Feitas as apresentações, Crittenberger manifestou sua satisfação ao ver os brasileiros integrando seu Corpo de Exército, o que significaria dar maior expressão às operações que viessem a cumprir. E como o IV Corpo estava praticamente inexistente, pela saída de várias unidades para outros destinos, pensara o general Crittenberger que a chegada dos brasileiros viria trazer uma oportunidade para o ressurgimento de seu antigo comando e conquista de novas vitórias (vide o post anterior, Rompendo a Linha Gótica-I).
Procurando enveredar, logo, pelo terreno da blague, sem medir as consequências, talvez mesmo para quebrar o formalismo daquele primeiro encontro, Crittenberger indagou a idade do general Mascarenhas. Fê-lo, talvez, intencionalmente, pois já devia estar informado. Respondeu-lhe Mascarenhas que tinha 61 anos de idade. Sem mais conversa, Crittenberger, irônico e com um largo sorriso, disse:
Muito bem, general. Neste momento eu lhe passo o bastão do mais velho general do Teatro de Operações. Até essa data era eu, com 55 anos.
Segundo o testemunho de Brayner, a zoeira do general norte-americano “não ecoou bem na equipe brasileira que acabava de se apresentar”. Talvez o estrangeiro estivesse informado do espírito amigável e brincalhão da tropa recém-chegada, almejando “quebrar o gelo” do primeiro encontro com uma gozação típica da caserna, mas não contava com a sisudez do chefe brasileiro e o enorme respeito que seus auxiliares diretos lhe devotavam.
Mascarenhas certamente não esperava por essa gozação. Ambos teriam uma conturbada relação profissional nos meses seguintes, que se transformou em amizade no pós-guerra. Os dois trocaram correspondências amistosas e fizeram referências elogiosas mútuas depois do conflito, até o final de suas vidas.
A zoeira prevaleceu sobre a sisudez.
Floriano de Lima Brayner. A Verdade Sobre a FEB, pp. 151-152.
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