Rio de Janeiro – 29 de outubro de 1945
A política interna brasileira entrou em polvorosa quando Getúlio Vargas decidiu aferrar-se ao poder. Suas artimanhas eram conhecidas. Mandou alterar o calendário eleitoral e ordenou a substituição do Chefe de Polícia do Distrito Federal por seu temido irmão: Benjamim Vargas (o Bejo). Foi a gota d’água.
Em uma reunião urgente no Palácio Duque de Caxias, Góes Monteiro, Ministro da Guerra, informou que estava demissionário. Tudo parecia indicar que a ditadura se perpetuaria por tempo indeterminado, desta vez aliançada com os comunistas.
Foi quando tomou a palavra o General Cordeiro de Farias, que comandara a Artilharia da FEB:
— General Góes, considero natural que o senhor se demita. Creio que não tinha outra conduta a seguir. Mas tenho uma proposta: a partir de agora, o senhor não é mais ministro de Getúlio, mas continua nosso ministro, apoiado pela Aeronáutica e pela Marinha, através dos seus representantes nesta reunião.
Góes concordou. Estava selado o pacto da revolução branca. Mas quem seria o responsável por informar o ditador, arriscando-se a ser preso ou mesmo morto?
A escolha recaiu sobre o oficial de maior coragem física e moral entre os presentes. Cordeiro se dirigiu imediatamente ao Palácio Guanabara para cumprir a missão espinhosa.
— […]Era um dia chuvoso. Eu estava vestindo capa de chuva e estava armado. A capa escondia o meu revólver. É claro que eu não esperava qualquer ação de Getúlio, pois eu o conhecia bem, mas temia que o Bejo pudesse tentar alguma reação pessoal.[…]
Getúlio estava sentado atrás de uma escrivaninha. Eu me postei em frente à mesa, e o Bejo ficou ao lado. Assim, temendo que o Bejo tentasse alguma imprudência, durante toda a conversa eu mantive a mão dentro da capa de chuva, segurando o revólver, pronto para uma emergência.
O ditador foi deposto sem o disparo de um único tiro, contrariando os temores de uma guerra civil.
Crises separam bravos de covardes, idealistas de burocratas fardados. O valoroso “tenente”, digno representante da jovem oficialidade que combateu a República Velha e suas eleições fraudulentas, lutou contra comunistas, integralistas, fascistas e nazistas; e ainda protagonizou a derrubada do Estado Novo.
A geração de homens como Cordeiro de Farias nos faz tremenda falta.
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Fontes: Aspásia Camargo e Walder de Góes. Diálogo com Cordeiro de Farias: Meio Século de Combate, Bibliex, 2001, pp. 332-337.
Foto do Arquivo Nacional, sem indicação de local ou data. Provavelmente, durante o desembarque do 2º/3º Escalões da FEB em Livorno, em outubro de 1944.
Categorias:História da FEB
BRASILEIROS DESSE NAIPE FAZEM FALTA HOJE! O QUE NÃO SIGNIFICA QUE NÃO EXISTAM E/OU QUE NÃO ATENDERÃO AO CHAMADO DA PÁTRIA NA SUA HORA MAIS CRÍTICA E SOMBRIA!
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