O aliado inglês
Para colocar os expedicionários em combate, antes era preciso vencer a resistência dos ingleses, que tinham opinião negativa em relação ao emprego da FEB. Os britânicos viam a proposta de envio dos brasileiros à frente de batalha quase como piada, tanto que o Foreign Office (Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido) se mostrou disposto a abordá-la por mero protocolo diplomático: “Por mais absurda, na prática, que seja a participação brasileira na guerra, devemos estar dispostos a discuti-la na teoria”.
A séria crise diplomática anglo-brasileira de 1940–41 deixara sequelas na relação militar entre os dois países. Em 1944, um relatório secreto americano apontou que “as mágoas persistem entre os brasileiros, devido ao dano à dignidade nacional, quando, em 1941, a Marinha britânica deteve em Gibraltar um navio brasileiro (o vapor Siqueira Campos) , fazendo buscas na embarcação que trazia o general Gustavo Cordeiro de Farias, chefe da Comissão de Compras na Alemanha”. Para o assombro dos militares nacionais, os ingleses preferiam manter na Europa — de posse da Alemanha nazista — fornida carga de canhões modernos e outros materiais de guerra da Krupp, ao invés de permitir sua entrega ao Brasil.

Foi necessária a enérgica intervenção da diplomacia americana para que o Siqueira Campos (navio de carga e de passageiros) seguisse viagem. Outras embarcações do Brasil também foram detidas por patrulhas navais da Royal Navy. Londres vetou o envio de novas cargas e o contrato do Ministério da Guerra com a Krupp deixou de ser integralmente cumprido. Cogitou-se no Rio de Janeiro, inclusive, o rompimento das relações diplomáticas com o Reino Unido durante a “Questão Christie” do século XX.
Em 1943, o Departamento de Estado dos EUA encontrou grande dificuldade para convencer o War Office (Ministério da Guerra britânico) a convidar o general Dutra para uma visita ao Reino Unido, por causa da reputação do ministro de ser pró-Alemanha. Londres se mantinha avessa a qualquer tipo de cooperação com os militares brasileiros, julgados germanistas. De fato, até agosto de 1942, muitos deles manifestavam admiração explícita pela máquina de guerra germânica e suas vitórias sobre os odiados comunistas russos e o arrogante Império britânico. Conforme escreveu o tenente Cássio Abranches Viotti, oficial R/2 que serviu como voluntário na FEB:
“A maioria dos nossos oficiais superiores era germanófila. Eu mesmo era germanófilo. Enquanto os alemães não mexeram com o Brasil, muitos de nós éramos. Quando nossos navios foram torpedeados, houve uma reviravolta completa em nossos sentimentos e admirações. Éramos brasileiros acima de tudo, muito antes de sermos amigos de alemães e italianos”.



Além dos atritos diplomáticos, contribuiu para a oposição inglesa a desastrosa experiência prévia com as suas tropas coloniais africanas no início do conflito — e, para Londres, o modelo racial do Exército Brasileiro se enquadrava nesse universo. Sob tais circunstâncias, a forte aversão britânica teria desencorajado o envio da FEB ao Teatro de Operações do Mediterrâneo. Não tivesse ocorrido um evento político de repercussão internacional — pouco conhecido e valorizado —, provavelmente a Força Expedicionária Brasileira jamais teria deixado o solo pátrio.
O amigo amante da memória febiana sabe identificar qual foi esse evento?
Não? Em breve nós iremos lhe contar.


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