Parte I – Roteiro do 1º Escalão da FEB
Em comemoração aos 80 anos da Campanha da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial, oferecemos aos seguidores do perfil um roteiro resumido do seu 1º Escalão na Itália. O itinerário vai do dia 16 de julho de 1944, data do desembarque em Nápoles, até o dia 21 de agosto, quando a tropa estacionou por completo em Vada.
1. Nápoles
O USS General Mann trouxe o primeiro contingente da FEB para a Europa. Representante da simplória Guaxupé, cidade mineira com menos de nove mil habitantes, o soldado Vicente Pedroso da Cruz, da 4ª Cia do 11º RI, sobraçava com dificuldade o pesado saco de distribuição, com as pernas bambas em virtude da fraqueza causada pela viagem: “Fiquei quase um defunto de tanto vomitar”, recordou.
Após acomodar sua bagagem na carroceria de um dos caminhões, entrou em forma para marchar com os companheiros até a estação de trem vizinha. Porém, no caminho, muitos italianos hostilizaram aqueles estranhos desarmados, sob uniformes extraordinariamente parecidos com os dos alemães. Prisioneri tedeschi? (prisioneiros alemães?), perguntavam-se.

2. Agnano

Composições ferroviárias levaram os expedicionários até Agnano, localidade conhecida entre os antigos gregos e romanos por suas termas quentes e sulfurosas. Em seguida, a tropa marchou por estrada sinuosa e íngreme, cujo pavimento quase derretia sob o calor fortíssimo do verão: “O dia estava tão quente que a gente tinha impressão de ver chispas de fogo a desprender do asfalto escorregadio”, recordou Vicente Pedroso, que suava aos borbotões com a túnica abotoada até o pescoço.
Cruzaram os portões de extensa muralha no ponto culminante da subida, onde puderam avistar o destino: a cratera do Astroni, um vulcão extinto. O local assemelha-se a um imenso buraco, circundado pelos bordos altos e abruptos de uma encosta com extenso muro no topo. Seu bojo abrigava lagos e um aprazível bosque, ao redor de uma área descampada central.

Alguns caipiras tomaram grande susto quando souberam onde estavam, e os gaiatos atiçavam o temor:
“É um vulcão, sim. Pois nós não temos tomado banho quente? (havia uma fonte de água termal na cratera). […] Ela já sai quente da terra”.
Os medrosos acercaram-se do tenente Cássio Abranches Viotti, comandante da tropa mineira que reforçara o 6º Regimento de Infantaria, e só não usaram a palavra “erupção” porque não a conheciam:
“É deveras, seu tenente? Isso aqui é mesmo a cratera de um vulcão? Diz que, de tempos em tempos, ele entra em erupção e que está justo na hora de entrar de novo?”.
Abaixo – Iconografia da FEB em Agnano (também referenciada como Bagnoli). O locutor do filme histórico identifica o local do 2º filme, erroneamente, como San Rossore.
3. Tarquinia
Os expedicionários começaram a abandonar o Astroni na madrugada de 1º de agosto, tomando lugar numa composição ferroviária com destino a Littoria (mais tarde rebatizada como Latina), a sudeste de Roma. No desembarque, aguardava-os um comboio de 60 caminhões de 2 ½ toneladas da Logística americana, que foram repassados à Companhia de Intendência nacional. Deveriam chegar a um novo sítio distante 352 km: Tarquinia, pequena cidade costeira. Sem caminhões suficientes para todo o efetivo, teriam de vencer o penoso trajeto de 700 km com viagens de ida e volta.


4. Vada
A tropa estava em franco processo de recebimento da frota automotiva quando veio nova ordem, apenas dez dias após a saída do último contingente do Astroni: deveriam seguir para Vada, distante 195 km. Os febianos estacionaram em Vada, por completo, em 21 de agosto.
O dia seguinte marcou o 2º aniversário do reconhecimento do Estado de Beligerância do Brasil com a Alemanha e a Itália. Um fotógrafo da Agência Nacional registrou a foto icônica de dez alegres soldados em Villa Graziani (QG da FEB); dois deles estão na traseira de um jipe segurando uma placa com a inscrição: “2º Aniversário / Hitler, aqui já estamos” (foto abaixo).





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