
O Valor da História Militar: Reflexões a partir do Seminário do DECEx
O Departamento de Educação e Cultura do Exército Brasileiro (DECEx), herdeiro das tradições do ensino militar dos nossos antepassados, promoveu neste ano um Seminário de História Militar com etapas em três das principais escolas de formação de oficiais da Força Terrestre: a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), a Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) e a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME). A iniciativa, conduzida por meio da Assessoria Especial de História Militar (AEHM), teve como objetivo difundir o estudo e a reflexão sobre a trajetória do Exército Brasileiro, em especial durante a Segunda Guerra Mundial.
Durante o Seminário, tivemos a honra de apresentar a palestra “Guerreiros da Província” 🌿, abordando o papel desempenhado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) na história do Brasil e na trajetória das suas Forças Armadas. A palestra foi ministrada a diferentes públicos: cadetes da AMAN, capitães em aperfeiçoamento na EsAO e oficiais superiores do curso de Comando e Estado-Maior na ECEME. 🐍





Memória dispersa: o desafio de compreender a FEB
Enquanto o US Army, por meio do Army Center of Military History, compilou sua participação na Segunda Guerra Mundial em 79 volumes meticulosamente organizados (os famosos Green Books), a experiência brasileira seguiu caminho distinto. A trajetória da FEB acabou dispersa em centenas de livros e relatos, produzidos por diversos autores, muitas vezes com interpretações contraditórias. Com o passar dos anos, reduziu-se aquela expedição a uma mera curiosidade histórica — um episódio frequentemente desdenhado como “coisa do século passado” por quem desconhece sua real importância.
Essa fragmentação resultou em uma compreensão superficial do episódio. Os acertos e erros da campanha na Itália foram narrados de forma genérica, sem análise profunda de suas causas ou proposição de soluções para evitar a repetição dos mesmos equívocos.
Na década de 1940, o Brasil tentou organizar um Corpo de Exército Expedicionário, mas conseguiu enviar aos campos de batalha apenas uma Divisão de Infantaria, e ainda assim em condições precárias. E hoje, mais de oitenta anos depois, seríamos capazes de mobilizar e organizar um Corpo de Exército Expedicionário? Teríamos condições de armá-lo, equipá-lo e treiná-lo adequadamente? Ou estaríamos fadados a repetir as dificuldades do passado, sem aproveitar as lições que a história nos oferece?

A FEB nos estudos e na formação militar
No meio acadêmico, a FEB foi estudada preferencialmente sob uma ótica interdisciplinar, observando sua interseção com áreas como a Sociologia e a Ciência Política. No âmbito militar, os registros permaneceram limitados.
Um relato sumário encontra-se na coleção História do Exército Brasileiro, publicada em 1972, por ocasião do sesquicentenário da República. Ainda assim, esse material pouco contribui para a formação prática das novas gerações de oficiais.
É justamente nesse ponto que reside uma das maiores virtudes do Seminário de História Militar do DECEx: levar a discussão para dentro das Escolas Militares, aproximando os futuros líderes da Força Terrestre dos exemplos, acertos e falhas de seus antecessores.
Durante as palestras, destacamos como a experiência da FEB pode oferecer ensinamentos valiosos sobre processos de conscrição, mobilização, equipagem, seleção física e sanitária, e treinamento do efetivo — conhecimentos que continuam extremamente atuais para o preparo do Exército Brasileiro.
História como guia para os líderes militares
O estudo da História Militar mostra-se essencial em todas as etapas da carreira de um oficial, do cadete ao general. Um exemplo inspirador é o do general norte-americano George S. Patton: um dos mais célebres comandantes do Exército dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial. Patton era um ávido estudioso das campanhas do passado, dedicando-se à leitura minuciosa das biografias de líderes como Aníbal, Júlio César e Napoleão Bonaparte. Para ele, a história não se limitava a mera erudição, mas poderoso instrumento prático, capaz de oferecer clareza para o entendimento da natureza da guerra, e de servir como guia para a tomada das decisões em combate.
“A história ensina a simplicidade da guerra.” — George S. Patton

Assim como Patton buscou inspiração em líderes do passado, nós também podemos — e devemos — estudar as manobras da FEB. Um exemplo marcante está na conquista do Monte Prana, na Itália, há quase exatos 81 anos. Após sucessivos ataques diretos sem êxito, por várias direções, os nossos comandantes adaptaram sua estratégia, optando por cortar a rota de suprimento do inimigo, forçando-o a abandonar a posição. Essa vitória foi fruto do aprendizado no campo de batalha, demonstrando como a flexibilidade e a análise crítica podem mudar o curso de uma operação.

Conclusão: lições que não devem se perder
O Seminário do DECEx reafirmou a importância de preservar e estudar a História Militar, não como uma relíquia do passado, mas como ferramenta estratégica para o futuro. Cada geração de oficiais precisa compreender os desafios enfrentados por seus antecessores para melhor se preparar para os que ainda virão.
Agradeço ao DECEx pelo gentil convite para participar deste importante evento e, em especial, ao Cel Mello e à sua dedicada equipe — Maj Licério e Cap Cícero —, cujo eficaz apoio mostrou-se fundamental para o sucesso das atividades.


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