A Canção do Expedicionário
Não fossem as associações de veteranos, mantidas por meio dos recursos pessoais dos ex-combatentes, terem servido ao longo dos anos como referência para a guarda das recordações pessoais de guerra, fosse por intermédio dos pracinhas ou de suas famílias, esse quadro seria ainda pior. Embora tenha sido a FEB a nossa última experiência bélica, contendo inestimáveis ensinamentos para as Forças Armadas – seja na mobilização ou no combate propriamente dito – passados quase 70 anos da entrada do Brasil na guerra, por incrível que pareça, ainda não existe uma entidade oficial, civil ou militar, encarregada especificamente da pesquisa, guarda e preservação do seu acervo material. Uma entidade que sirva de referência para a doação dos acervos pessoais dos veteranos e de suas associações, visto que quase todas elas já estão fechadas – ou em vias de – face a avançada idade dos veteranos remanescentes (o veterano da FEB “mais jovem” possui hoje 86 anos).
Num país como o Brasil, tradicionalmente avesso à preservação da sua história e cultura, é natural que a memória dos eventos históricos se perca na poeira do tempo. Mesmo a participação brasileira na II Guerra Mundial, ocorrida quase na metade do Séc XX, quando já se dispunha do cinema, do rádio e da fotografia para o seu registro, possui um legado audiovisual muito aquém do seu potencial. E o mais grave: boa parte desse legado se esvai para o ralo.



Curiosamente, em 2008, enquanto o museu da Casa da FEB – o principal museu da FEB na Região Sudeste – fechava as suas portas por falta de recursos para a manutenção, a União Nacional dos Estudantes (UNE) era contemplada com R$ 30.000.000,00 de reais em recursos para a reconstrução da sua sede, no bairro do Flamengo. Por sinal, originariamente o local não lhe pertencia, mas à Sociedade Germânia: um clube de imigrantes alemães, fundado em 1929, e desapropriado por decreto pela ditadura Vargas, em 1942, quando da entrada do Brasil na IIGM.
Coube à iniciativa privada, por meio das empresas Tecnolach, Mobilazh, Sparch e Printech, do Grupo CHG a missão de proporcionar a associação os meios materiais necessários, reformando o Museu da FEB segundo um moderno e arrojado projeto que objetiva a perpetuação desta importante instituição. O volume de material histórico que certamente já foi para a lata do lixo, ou para a mão de colecionadores particulares, ao longo das décadas, é incomensurável. Irreversível. Felizmente, de todo o legado audiovisual da FEB, a parcela que talvez tenha sido mais preservada foi o seu legado musical.
A Canção do Expedicionário, obra que encabeça esse legado, é o verdadeiro Hino da Força Expedicionária Brasileira. Foi lançada em disco em outubro de 1944, na oportunidade em que 3 dos 5 escalões da FEB já estavam na Itália. Em setembro, os pracinhas já tinham recebido o batismo de fogo.
A música é do maestro Spartaco Rossi e o poema de Guilherme de Almeida. São versos maravilhosos que retratam os valores do homem brasileiro que vai lutar, levando no coração a saudade da Pátria. Guilherme de Almeida aproveita nomes e versos de canções e expressões de uso corrente nessa genial criação. Uma canção militar de inspiração inusitada. Quando ia ser impressa, o maestro Spartaco Rossi mandou um pedido aos irmãos Vitale, para que o primoroso poema de Guilherme de Almeida fosse publicado na íntegra. Isso aconteceu.


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