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Frank D. McCann – Obituário

A primeira semana de abril termina com uma perda irreparável para a historiografia do Brasil na Segunda Grande Guerra, com o falecimento do professor Frank D. McCann Jr em 2/4, um dos gigantes da História Militar do Brasil.

Nascido a 15 de dezembro de 1938, sua vida acadêmica foi dedicada ao estudo do Brasil, que o levou a falar com fluência a Língua Portuguesa. Ministrou ampla variedade de cursos sobre história latino-americana e culturas nativas americanas. Foi o diretor fundador do UNH Center for International Perspectives e teve imenso prazer em orientar os alunos a explorar, aprender e apreciar outros países, culturas e idiomas. Frank achava imperativo que os alunos experimentassem a vida além de suas cidades natais para entender melhor suas próprias raízes, e também para considerar a possibilidade de que eles pudessem prosperar e crescer quando estivessem no Exterior, mesmo que temporariamente. Passou muitas horas incentivando os alunos a terem confiança em suas próprias habilidades e a acreditar que, por meio de muito trabalho e esforço, qualquer pessoa poderia ter sucesso acadêmico, profissional e pessoal.[1] 

Frank D. McCann: o maior de todos os brasilianistas

Seu fascínio pela História começou enquanto caminhava pelo Forte Ticonderoga e outros locais históricos com seu irmão mais novo, Bernard, o pai Francis Daniel, Sr., (Kelly) McCann e, antes de sua morte precoce quando os meninos tinham 13 e 8 anos, sua mãe Kay Moran. A Biblioteca Pública Lackawanna, onde Frank e seu irmão passaram muitas horas lendo, tornou-se outro lugar feliz e confortável. Um lugar que Frank imitou ao criar sua própria biblioteca de empréstimos de livros para crianças da vizinhança. Durante o Ensino Médio, Frank se destacou no arco e flecha e na corrida, fazendo parte da equipe católica cross-country da Western New York. Conquistou o posto de escoteiro e passou os verões como conselheiro de acampamento em Adirondacks. Enquanto estava lá, fortaleceu seu profundo e permanente interesse pelos povos indígenas da Nação Iroquois, especialmente o Tonawanda Seneca

Frank obteve seu bacharelado na Universidade de Niagara (1960), onde conheceu Diane, sua amada esposa por quase 59 anos. Obteve o Mestrado em 1962, pela Universidade Estadual de Kent, e um PhD em 1967 pela Indiana University. Sua filha mais velha, Teresa Bernadette (Tibi), nasceu em Bloomington quando ele completou o curso. À época, um grupo de estudantes liderado pela brasileira Teresinha Souto Ward e o refugiado húngaro George Fodor o convenceu a escrever sobre as relações EUA-Brasil.

Em 1965, uma bolsa acadêmica Fulbright (a primeira de quatro) levou Frank, sua esposa Diane e filhos, ao Rio de Janeiro. Ele faria dezenas de viagens subsequentes ao Brasil, sozinho ou com a família, buscando documentos de arquivo, ensinando, construindo amizades e cruzando o país de carro, avião, e barco — sempre preferindo a estrada ou atalho menos percorrida, frequentemente não pavimentada e ocasionalmente não mapeada. Cada igreja ao longo do caminho mereceu sua atenção. As quase incontáveis ​​viagens fundamentaram seus livros, artigos, resenhas de periódicos e, mais recentemente, centenas de verbetes no Manual de Estudos Latino-Americanos como um dos colaboradores para a História do Brasil.

Seu trabalho de estudo das Forças Armadas Brasileiras foi amplamente respeitado no Brasil. A Aliança Brasil Estados Unidos, 1937-1945 e Soldados do Pátria: uma História do Exército Brasileiro, 1889-1937, foram traduzidos e publicados em Língua Portuguesa (o primeiro foi vencedor do Prêmio Bernath e recebeu menção honrosa para o Prêmio Bolton)Também foi coeditor de Modern Brazil: Elites and Masses in Historical Perspective.   O governo brasileiro reconheceu seu compromisso com o estudo do País, conferindo-lhe o título de Comendador na Ordem do Rio Branco (1987) e a Medalha do Pacificador (1995).

Parte da notável produção literária de Frank McCann, referência essencial para os estudiosos da temática militar e das Relações Internacionais.

Frank lecionou na Universidade de Wisconsin, River Falls e na Academia Militar dos Estados Unidos (West Point) como capitão do Exército. Completou o pós-doutorado na Universidade de Princeton e também foi professor visitante na Universidade do Novo México (Albuquerque), na Universidade de Brasília e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. As aventuras acadêmicas o levaram a muitos países da América Latina, além da Polônia, Bulgária, Inglaterra, Irlanda e Nigéria, entre outros lugares. Frank e Diane desfrutaram de aventuras em Belize, México, Canadá, Itália, Turquia, Espanha, França e grande parte dos Estados Unidos, especialmente no norte da Califórnia, Washington D.C. e em muitas pequenas cidades na Virgínia. 

Seu eclético gosto musical incluía cantos gregorianos, samba, Clancy Brothers, Armstrong, Sinatra, Miles e muito mais. Um jantar sem MPB (Musica Popular Brasileira) para “criar um clima” era tão impensável quanto um bar que servia um medíocre Manhattan (só bourbon do Kentucky, por favor!). Ávido canoísta e esquiador, seu apreço pelo ar livre estendia-se às horas que passava cuidando de árvores, arbustos e outras plantas em sua casa em Durham.

Ao lado de John W. F. Dulles (1913-2008) e Stanley E. Hilton (1940), McCann fez parte de uma geração notável de brasilianistas (acadêmicos com o foco de pesquisa no Brasil). Seus estudos e vasta produção literária primam pelo ineditismo, base em fontes primárias, na escrita elegante, na inteligência apurada e, sobretudo, na humildade espontânea. Atendia com fina educação a todos que lhe consultavam, buscando informações de todo o tipo. Foi o primeiro historiador a obter acesso a documentos sigilosos dos EUA a respeito da participação da FEB na Segunda Grande Guerra. Porém, ao contrário de aventureiros sedentos pelo sensacionalismo irresponsável nos anos seguintes, Frank tratou essas informações confidenciais com profissionalismo, equilíbrio e ponderação em sua primeira obra: The Brazilian-American Alliance 1937-1945 (lançada nos EUA em 1973).

Seu robusto Soldados da Pátria (2009) constitui fonte de referência oficial para os alunos da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército Brasileiro (ECEME). Já o clássico A Aliança Brasil -Estados Unidos, 1937-1945 (editada pela Bibliex em 1995) foi complementado pelo livro Brazil and the United States during World War II and Its Aftermath: Negotiating Alliance and Balancing Giants, ainda sem tradução para o nosso idioma. Trata-se de uma referência essencial para os historiadores e pesquisadores do tema: a “cereja do bolo” da sua produção literária voltada para a pesquisa da História Militar do Brasil na Segunda Guerra Mundial e das relações Brasil-EUA — que permanece insuperável, seja por autores brasileiros ou estrangeiros.

Capa do último livro de McCann: a “cereja do bolo” de uma estupenda e respeitada produção acadêmica.

Deixa sua esposa Diane e uma grande família irlandesa-americana.

Uma missa de corpo presente será celebrada na terça-feira, 6 de abril, às 9 horas, na Igreja de St. Mary, 182 Main Street, Newmarket, (Devido às diretrizes COVID, os assentos serão limitados, mas a Missa será transmitida ao vivo pela Kent & Pelczar Funeral Home & Crematório no Facebook). O enterro será feito no Cemitério de Durham.

Em vez de flores, considere fazer uma doação ao American Indian College Fund.

Visite www.kentandpelczarfh.com para assinar um livro de visitas online.


[1] Texto elaborado com base no obituário disponível em: https://www.kentandpelczarfh.com/obituary/francis-mccann-jr

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4 respostas »

  1. Grande perda. Eu o recebi aqui em Natal e foi um momento muito positivo. Nunca esqueci a mensagem de condolências pelo falecimento do meu pai que ele gentilmente me enviou. Que fique com Deus!

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