O Destacamento FEB na Toscana
Parte I – O Destacamento FEB
Quem tem a oportunidade de conhecer a Toscana italiana, certamente fica admirado com a impressionante beleza natural da região. Além disso, a recepção aos brasileiros é afetuosa, em particular a oriunda dos habitantes mais idosos. Tirando a hospitabilidade italiana, há uma razão histórica para tal recepção. Na década de 40, lá esteve a Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda Guerra Mundial, libertando dezenas de cidades e vilarejos do domínio nazifascista. Foi pensando nos brasileiros que para lá viajam, interessados em conhecer um pouco da atuação da FEB na Toscana, que este post foi escrito.

A seguir, encontra-se a cronologia e locais por onde passaram os pracinhas brasileiros do Destacamento FEB, comandado pelo General Zenóbio da Costa, que realizou as primeiras operações militares em solo europeu. 16.07.1944 – Desembarque em Nápoles (Itália), dirigindo-se para a região de Agnaro. 04.08.1944 – Deslocamento para a região da Tarquinia. 14.08.1944 – Incorporação ao V Exército Americano. 21.08.1944 – Deslocamento de Tarquinia para a região de Vada. 13.09.1944 – Deslocamento de Vada para Ospedaleto. 14.09.1944 – Deslocamento de Ospedaleto para Vecchiano, para substituir o 434º Batalhão de Artilharia antiaérea norte-americano, recebendo a missão de progredir para o norte, tendo conquistado a Cidade de Massarosa, Monte Comunale e S. Stefano e Il Monte; 17.09.1944 – Captura dos maciços de Ghilardona, Il Vecoli, e C. S. Lucia; 18.09.1944 – Conquista das cidades de Camaiore, Castegnori, S. Martino in Fredane, C.Pellagio, Cucca, Terracia, Casciana, Monsagrati, Cota 404, Vl. De Canestrano e C. de Collecchio; 20.09.1944 – Conquista das cidades de Stignano, Auticiano, Fibiane, Bozzano e Cota 562; 25.09.1944 – Conquista dos morros M. Acuto – M.Valimoni e Garupa de Batoni, obrigando o inimigo a retirar-se para o norte; 26.09.1944 – Conquista de Monte Prana 27.09.1944 – Conquista das cidades de Lopleglia e Fianno; 28.09.1944 – Conquista das cidades de Covale, Pigaio, Villabuona, Piazzanelo; 30.09.1944 – Conquista de cidades de Pescaglia e Borgo a Mozzano; 06.10.1944 – Conquista de Coreglia Alteminelli e Fornaci; 07.10.1944 – Patrulhas da FEB entram, sem encontrar resistência, em Gallicano, Fabriche e Cardoso; 11.10.1944 – Conquista de Barga e Gallicano; 24.10.1944 – Ocupação de Sommocolonia; 25.10.1944 – Ocupação de Trassilico e Verni; 28.10.1944 – Captura de Monte Facto; 29.10.1944 – Ocupação de Colomini; 30.10.1944 – Conquista de San Quirico, Lama di Sotto, Lama di Sopra, Pradoscello e Pian de Los Rios.
Muitas das localidades descritas na literatura da FEB são, na verdade, distritos pertencentes a um município próximo (comune) ou, ainda, agrupamentos de casas (paese), que não aparecem hoje nos mapas face ao seu tamanho reduzido, por terem mudado de nome e/ou por terem absorvidos por outras cidades, posteriormente. Há algumas diferenças na nomenclatura utilizada na época com relação a atual. O Monte Prano é designado como Monte Prana no Google, por exemplo. Aliás, impressiona a sua altitude (1.221m) e o esforço que os pracinhas tiveram de empreender para sua conquista, partindo de posições quase ao nível do mar, como em Pisa. Em 1/05/2007 , foi colocada no topo do monte uma placa para relembrar a passagem dos brasileiros pelo local. Nesta outra foto aparece o cruzeiro, no topo do Monte Prana, com vista para o limite esquerdo do front brasileiro em 30/10/1944 (Pania Secca) no canto inferior direito do retângulo, por sua vez, próximo ao QG de uma Divisão SS alemã.
Um excelente estudo sobre a manobra do Destacamento FEB no Vale do Serchio foi elaborado pelo Prof. Dr. Dennison de Oliveira, da UFPR. A chegada dos brasileiros, em 1944, foi motivo de festa para a população. Esteve aquela região sob o controle da 16ª Divisão Panzer SS (mapa a seguir) até o avanço dos Aliados na direção da Linha Gótica (assinalada em vermelho), que lá perpetraram atos de crueldade inimaginável. Um apanhado dos crimes de guerra na Toscana encontra-se no livro Le Stragi Nazifasciste in Toscana 1943-45. Há cerca de 200 casos documentados, com vítimas que chegam a casa dos milhares. Ainda que, provavelmente, este número tenha sido superestimado pelo antagonismo ideológico, ainda intenso no país, os números são estarrecedores.

Apenas na cidade de Sant’Anna di Stazzema foram mortos 560 civis, entre homens, mulheres e crianças, inclusive bebês; um exemplo inequívoco da ação do mal sobre a natureza humana, agindo sob a capa de um regime totalitário e da guerra. Apenas em 2004, 60 anos após o massacre, os responsáveis começaram a ser julgados e condenados.
O cineasta Spike Lee dirigiu o filme Milagre em Sant’ Anna, que retrata esse triste episódio, ocorrido menos de um mês antes da FEB entrar em ação. A obra enfoca a 92ª Divisão “Buffallo” norte americana: a Divisão que substituiu aos brasileiros em outubro/novembro de 1944. O filme foi rodado na região da Toscana, onde os brasileiros estiveram.

Além dos locais onde esteve o Destacamento FEB, estão assinalados outros três de interesse turístico, histórico e cultural na região. São eles:
1. Passo Croce – Onde foram gravadas cenas do filme Milagre em Sant’ Anna


2. Sant’Anna di Stazzema

3. Monumento Votivo Militar Brasileiro em Pistoia
Os brasileiros mortos durante a campanha da FEB na Itália, exceto os “Soldados Desaparecidos”, foram enterrados no Cemitério Militar Brasileiro, mantido por décadas pelo Tenente Miguel Pereira: um ex-combatente que desde o final da Guerra permaneceu em solo italiano, com a missão de cuidar daquele pedaço de terra brasileira, cravado na região da Toscana .
O Monumento é composto de uma plataforma que contém uma pirâmide triangular com as placas inaugurais, um grupo escultórico em homenagem às Forças Armadas, um painel metálico estilizando um engenho aéreo de guerra e duas colunas monumentais, entre as quais encontra-se o túmulo do “Soldado Desconhecido”, ponto central de todas as homenagens e solenidades ali realizadas.
Em dezembro de 1960, os restos mortais dos brasileiros foram transladados para o Brasil, no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo. Anos mais tarde, foram encontrados os restos mortais de um dos soldados brasileiros extraviados. Por decisão unânime dos ex-combatentes, o corpo permaneceu no local onde encontra-se o túmulo do “Soldado Desconhecido”, no Monumento Votivo Militar Brasileiro. hoje administrado pelo filho de Miguel Pereira, Mario Pereira: um verdadeiro embaixador da FEB em território italiano.


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