História da FEB

Mascarenhas de Moraes e o 31 de Março

O marechal Mascarenhas de Moraes foi um dos expoentes militares brasileiros do século XX — para muitos, o maior de todos. Mascarenhas foi agraciado com uma homenagem ímpar do Congresso Nacional, que o investiu no posto de Marechal e lhe garantiu a permanência na Ativa enquanto vivesse. Inexiste outro exemplo semelhante na história republicana brasileira.

Segundo um oficial que serviu sob o seu comando, e o acompanhou durante a Campanha da Itália como seu adjunto, era um “homem de poucas palavras, raros sorrisos, fisionomia simpática, mas carrancuda, dava impressão de um chefe ríspido, pouco acessível e intransigente. Tal aspecto ocultava, no entanto, a grande alma que era possuidor, seu elevado senso de justiça, sua correção de atitudes, sua inteireza moral, seu imenso senso de responsabilidade e outras excelsas virtudes de homem cidadão e de soldado, que ornavam sua personalidade de escol”.

Dotado de indiscutível coragem física e moral, foi encarregado das missões mais difíceis e arriscadas para um oficial-general da sua época: preparar a defesa do Nordeste brasileiro ante a perspectiva de uma invasão estrangeira (do Eixo ou norte-americana). Mais tarde, enquanto alguns dos seus pares mais antigos recusaram a oferta de comandar a FEB, Mascarenhas a aceitou de imediato. Foi voluntário para liderar a inexperiente tropa expedicionária nacional em solo italiano, contra a temível máquina de guerra nazista — talvez o melhor exército da época.

Era intransigente contra o menor indício de indisciplina dos seus subordinados, mas também sabia comandar pelo exemplo. Sua presença era frequente nas regiões mais inesperadas do perigoso front brasileiro. Instalou seu Posto de Comando em uma cidade (Porreta Terme) ao alcance do bombardeio inimigo, o que provocou o espanto dos seus pares estrangeiros, estarrecidos quando a região era atingida pela Artilharia alemã durante suas visitas ao QG em Porreta.

Segundo Vernon Walters, intérprete da FEB, certo dia o general Crittenberger disse ao brasileiro: “Sei que esse fogo inimigo está dificultando o funcionamento do seu posto de comando. Se o senhor achar conveniente, tem minha permissão para recuá-lo, fora dessa zona batida pelo inimigo. O General Mascarenhas respondeu calmamente: ‘General Crittenberger, o senhor é norte-americano, e seus compatriotas têm muitos PC’s na Itália; podem desloca-los para frente e para trás sem ninguém notar. Este sendo o único brasileiro, quando eu deslocá-lo será para frente e não para a retaguarda’. O General Crittenberger abraçou-o sem uma palavra. E assim foi”.

Militar legalista por natureza, esteve sempre ao lado da ordem vigente desde os tempos de aluno da Escola Militar da Praia Vermelha, quando se recusou a participar da Revolta da Vacina (1904). Porém, sabia desobedecer quando necessário, pois seu respeito à ordem constituída subordinava-se a dois aspectos fundamentais do seu caráter: a lealdade aos que lhe foram subordinados e, principalmente, o amor pelo Brasil.

Conforme testemunhos, sua mera presença no ambiente bastava para silenciar os espíritos exaltados e de indisciplina porventura existentes. Foi o que levou a vestir novamente a farda. Apesar da idade provecta (80 anos), não hesitou em escoltar o general Castello Branco até o QG do Exército, em 31 de março de 1964, protegendo-o da ordem de prisão expedida pelo governo de João Goulart.

O velho marechal ajudou a livrar o seu país de uma nova investida totalitária, arriscando-se a manchar uma carreira imaculada e vitoriosa. Sobretudo, refutou um vício corrente em muitos dos seus pares na atualidade, donos de uma bipolaridade de conveniência: “Leões” frente os subordinados, “gatinhos” diante dos inimigos da Nação.

Que a história de vida de Mascarenhas de Moraes sirva de exemplo aos chefes militares do presente.

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Vernon Walters. Poderosos e Humildes, Rio de Janeiro, Bibliex, p. 225.

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