Músicas da FEB

O samba proibido da FEB

Quando se fala hoje em música proibida, a imagem que muitos têm é a de algum tipo de funk envolvendo a apologia ao tráfico de drogas e/ou recheado de palavrões. Mas este novo post trata de algo bem diferente: um samba proibido pela censura do DIP, o Departamento de Imprensa e Propaganda da ditadura Vargas. Uma obra-prima composta por ninguém menos do que o imortal Ary Barroso.

Ary Barroso: autor do samba sobre a FEB

A censura executada pelo DIP era de extrema eficiência. Agia em todos os segmentos da sociedade e, muitas vezes, os censores eram pessoas envolvidas pelo clima da época, que “entregavam”, até inconscientemente, as manifestações culturais que por acaso demonstrassem ideias contrárias ao governo, logo a seguir censuradas.

Foi este o caso do samba Onde o Sol Doira as Espigas (1944). Embora não mencione diretamente a FEB, a censura da DIP entendeu que a letra, com sua exposição realista dos males do conflito, faria baixar o moral de quem a ouvisse, assim prejudicando a mobilização. A bem dizer, numa época onde o esforço de guerra era continuamente sabotado — ainda que disfarçadamente — por integralistas, simpatizantes do nazi-fascismo e adversários do governo Vargas, a belíssima composição vinha em momento inoportuno.

Ary Barroso então reescreveu novos versos para  a primeira parte, mais ácida,  e mudou o título para “Uma Parte da História“: “O caboré piou/ nêgo tremeu/ pra senzala correu/ e lá ficou” (Caboré é o apelido de uma ave de rapina). Ao que parece, Ary Barroso já recebera notícias do horror e da fome característicos do front italiano, inserindo a batida do surdo, tal qual numa procissão fúnebre; e o toque de clarim, em acordes semelhantes ao toque de silêncio. Já os versos da segunda parte, de exaltação, permaneceram.

Moraes Neto (1918-2009) interpretou o samba no rádio por duas vezes, no máximo. Mais tarde, chegando ao estúdio de gravação, a composição não coube no disco (78 RPM) por ser muito longa. Depois de um incêndio na rádio Tupi, a partitura manuscrita queimou-se. Felizmente Morais Neto sempre reservava para si um cópia das gravações, a fim de usá-la em suas excursões.

Decorridos 47 anos, o samba foi regravado pelo próprio intérprete em sua versão original. Clique neste link para ouvir.

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3 respostas »

  1. Desculpem mas tenho que me manifestar . Fui oficial de infantaria na FEB e o que vi foi uma total indiferença do povo pelo o que a FEB fez. Ainda vejo uma constante manifestação de como a FEB operou, sendo uma da Divisões de Infantaria parte do IV Corpo do V Exercito Norteamericanocano. A FEB em base igualdade com qualquer das demais diivisões americanas no mesmo TO. Não fez mais nem menos que nenhuma outra, salvo no tempo de serviço que operou.
    Ninguem se manifestou sobre o fato da FEB ter sido a primeira unidade de combate racialmente integrada a combater em qualquer guerra, tendo tido ao seu lado uma divisão norte americana constituida somente de soldados negros. Na Decima Divisão norte americana, noss aconstente companheiranõ havia um único soldado que não fosse branco. Quando a Divisão 92, de soldados negros, teve que ser reforçada devido ao fraco desempenho, como só se podia esperar nas condições em que combatia, de total segregação racial, foi reforçada com um regimento de niseis, descendentes de japones, que foi a unidade mais condecorada da frente europeia.
    Até 19 de janeiro de 1945, quando a Décima de Montanha entrou em posição na frente dos Apeninos, a FEB cobria, sozinha, uma frente d 19 kms.
    A FEB não fez nada demais, somente desempenhou, com sucesso, as missões que lhe foram dadas , foi eficiente e competente, duas atuações que para o brasileitro são sinonimas de arrogancia.
    Sinto muito em me manifestar desta maneira mas sinto que devo faze-lo. Em algum ponto, em alguma data alguem tem que dizer: vamos acordar para a realidade do mundo. Luiz Paulino Bomfim.

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  2. “Caminhos povoados de esfarrapados”… “Pedindo pão”… e (que enervante!) “ruge o canhão”.

    Eles driblavam e continuavam… Não por vontade de de heroísmo, mas porque o dever assim o exigia. Mestres — que doce! –, desapegadamente criaram o embrião da sagrada prática “missões de paz da ONU”.

    Bela pesquisa, Durval! Parabéns!

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