História da FEB

Queremos a Guerra?

“As Manifestações Anti-Eixo se multiplicaram pelo país. Os estudantes, tiveram o mérito de deflagrarem as lutas contra as forças alienígenas infiltradas no país”, afirma o MEMOREX da história da UNE. Em 18 de agosto de 1942, houve uma grande comício organizado pela UNE no centro do Rio de Janeiro. Protestavam contra os afundamentos dos navios mercantes brasileiros, contra o nazi-fascismo e em favor da democracia. “Queremos a Guerra”, diziam os cartazes. O Correio da Manhã, de 19 de agosto, registrou o evento, reproduzido no MEMOREX da UNE:

Cerca de vinte mil pessoas assistiram ontem ao comício promovido pelo Diretório Acadêmico da Universidade do Rio de Janeiro, em sinal de protesto contra o torpedeamento dos navios brasileiros. Anunciado para as 8 horas, desde às 7 e pouco da noite começou o povo a afluir ao local até encher literalmente a praça. Quando os lugares começaram a escassear não houve para os retardatários senão buscar um lugarzinho ao alto das árvores ou subir como pudesse aos combustores da iluminação.

E assim fez o povo na ância (sic) incontida de ouvir a mocidade acadêmica do Brasil no seu grito de revolta contra a tirania dos que pretendem acorrentar o mundo ao dogma odioso da cruz gamada. Havia gente por todo lado. A custo os bondes conseguiram romper a massa humana que se estendia desde a rua do Passeio às escadas do municipal. Porque o povo a tudo tomou e invadiu, assim permanecendo até que ao apelo do último orador, a massa se pôs em movimento […]”.

Fotografia de uma das muitas manifestações populares organizadas pela UNE durante a Segunda Guerra Mundial.
Professores e estudantes de Direito discursam nas escadarias do Theatro Municipal, em 18 de agosto de 1942.

Professores e estudantes dos cursos de Direito se revezaram em discursos inflamados na escadaria do Theatro Municipal. A ditadura atendeu os desejos da massa estudantil em 31 de agosto, declarando o Estado de Guerra. Foram suspensas as garantias constitucionais, o direito ao habeas corpus, à liberdade de expressão e de escolha de profissão, de associação e de reunião, à livre circulação no território nacional, à inviolabilidade do domicílio, da correspondência e da propriedade. Além disso, detenções policiais poderiam ocorrer sem culpa formada. Também foi estabelecida a pena de prisão perpétua e suspenso o artigo 137 da Constituição, que tratava da legislação básica referente ao trabalho.

Na prática, as medidas aniquilaram o pouco que restava da democracia no Estado Novo, atingindo, sobretudo, o trabalhador de algumas indústrias e empresas consideradas essenciais para o esforço de guerra, ao extinguir o limite da jornada de trabalho semanal dos operários.

Já quanto aos estudantes que pediram a guerra, poucos foram atingidos por tais medidas autoritárias. Um número ínfimo dos que estavam nesssas manifestações se apresentou voluntariamente para servir à FEB. Menos ainda embarcaram para o front, após convocados, pois fizeram uso de “pistolões” e artifícios variados, comuns à privilegiada elite acadêmica.

Querer a guerra é diferente de querer lutar nela.

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Fonte das imagens: Arquivo Nacional

1 resposta »

  1. Algo mais próximo dessa situação de que me lembro, nesse momento, é a citação de Mark Twain “Palavras sobre a guerra, de pessoas que estiveram numa guerra, são sempre interessantes; palavras sobre a lua, de um poeta que nunca esteve na lua, têm toda a probabilidade de serem enfadonhas”.
    Atenciosamente,
    CLEBER ALMEIDA DE OLIVEIRA – PROFESSOR / DELEGADO FAHIMTB / PESQUISADOR CEPHIMEX / SÓCIO CORRESPONDENTE IGHMB / INSTITUTO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA MILITAR (UNESCO)

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